Estas modalidades postam-se como alternativas que as empresas dispõem para a convivência com uma nova realidade de mercado, que ajuda a ser melhor compreendida inicialmente pelo conceito demonstrado pelo acrônimo Vuca e, depois, com sua evolução, para o acrônico Bani, conforme descrições que cada um tem apresentadas na Figura 1.
Vuca |
Bani |
V - Volatility (volátil) |
B - Brittle (frágil) |
U - Uncertainty (incerto) |
A - Anxious (ansioso) |
C - Complexity (complexo) |
N - Non-linear (não-linear) |
A - Ambiguity (ambíguo) |
I - Ambiguity (ambíguo) |
Figura 1 – Acrônimos Vuca e Bani Fonte: Gabmeier (2019)
Conforme destacam os estudos de Grabmeier (2019), resumidamente Vuca é um termo originário da década de 1980, que foi moldado na Guerra Fria, ao passo que o Bani é mais recente, advindo de 2020, moldado pelo clima e mudança sistêmica global.
Para atuação na formatação dos cenários Vuca e/ou Bani há a necessidade das empresas repensarem tanto seus modelos de negócio como, por consequência natural e direta, seus métodos de gestão, abrindo espaços, respectivamente, num primeiro momento para as plataformas e ecossistemas de negócios e, depois, às metodologias ágeis de gestão, como, por exemplo, Scrum, Lean, Kanban, Smart, Design Sprint e Feature Driven-Development (FDD), dentre outras.
O novo que se desenha para algo que se entende como a futura já presente realidade demandada para a gestão e estruturação dos negócios passa, de maneira integrada, basicamente pela combinação de todos estes elementos, vistos à luz, frequentemente, da transformação digital e da Internet.
Para tal discussão, há necessidade da conceituação dos dois termos iniciais que foram mencionados: as plataformas e os ecossistemas.
Uma plataforma, de acordo com Hagiu e Wright (2015), corresponde a um negócio que tem como objetivo criar valor, facilitando as formas de interação direta entre dois ou mais tipos diferentes de clientes.
Entenda-se criar valor como algo de diferente feito por uma empresa, que tem suas vantagens exclusivas, únicas e relevantes oferecidas ao mercado consumidor. Isto ocorre por intermédio de uma combinação integrada das diversas áreas funcionais de uma empresa, suas atividades e processos na perspectiva da produção e entrega de benefícios ao seu mercado consumidor.
As formas facilitadas de interação entre fornecedor e cliente ocorrem por meio de uma plataforma que, por sua vez, conta com muita tecnologia embarcada e uma completa e, também, complexa rede de suporte de serviços, sustentada pela Internet, e gestão estratégica de dados.
No contexto das plataformas há os marketplaces de produtos e serviços, os sistemas de pagamento e moeda digitais, consoles de videogames, sistemas operacionais móveis, os sites com anúncios e as redes sociais, por exemplo. Para uma melhor ideia destas plataformas, a Figura 2 ilustra setores que foram transformados por elas.
Setor |
Exemplo de Plataformas |
Comunicação e mídia social |
LinkedIn, Facebook, Twitter, Instagram |
Educação |
Udemy, Coursera e Duolingo |
Energia e indústria pesada |
General Eletrick |
Finanças |
Bitcoin |
Jogos |
Xbox, Nintendo, Playstation |
Sistemas operacionais |
iOS, Android, MacOS, Micrsoft Windows |
Varejo |
Amazon, Alibaba |
Transporte |
Uber, Waze, BlaBlaCar |
Viagens |
Airbnb e TripAdvisor |
Figura 2 – Exemplo de empresas que se destacam pela aplicação do modelo de negócios de plataformas e cujos setores vêm sendo transformados por plataformas
Fonte: Parker, Van Alstyne e Choudary (2016) Obs.: produção feita com ajustes em setores e exemplos
O DNA fundamental de uma plataforma, segundo Parker, Van Alstyne e Choudary (2016), é existir para gerar contatos e facilitar as interações demandadas entre fornecedores e clientes, independente dos produtos e serviços que forem transacionados.
É na concepção dos negócios como plataformas, dentro de uma visão avançada, que surge o contexto para a organização dos ecossistemas.
Segundo conceitos apresentados por Souza e Yamashita (2021), os ecossistemas de negócios:
- são formados por diversas empresas, independentes e especializadas em suas áreas e que têm autonomia para condução de seus negócios, sem os habituais limites das fronteiras;
- operam sob um modelo onde há um agente central que coordena, estrategicamente, o funcionamento do ecossistema em si, promovendo forte conexão e sinergia entre todos os diferentes participantes, com ganho de escala, redução de custos e aumento de eficiência;
- têm como principais diferenciais competitivos a união, colaboração e combinação de competências, proporcionando um alto poder de inovação e disrupção;
- são digitalizados, orientados por dados e com foco no consumidor;
- têm estruturas mais ágeis e inovadoras por conta das empresas participantes estarem vocacionadas à conexão com outras empresas em sua estrutura efetuando o mínimo de atrito possível e com possibilidade de atuação em muitas indústrias, proporcionando diferenciais por meio da união das competências das participantes, até então não exploradas, fazendo uma contraposição aos modelos tradicionais, onde as relações comerciais pautam-se no fornecimento, sem muita troca e desenvolvimento de ações em conjunto, número limitado de parceiros e relações baseadas em compra/venda local/regional, limitando a inovação e transformação do negócio.
É importante considerar essas percepções para a construção de um jeito de pensar, fazer e trabalhar o que se tem de referências para ecossistemas de negócios, inclusive com uma reflexão, ainda que a médio e longo prazos, sobre possibilidades de sua empresa participar de iniciativas afins.
Como complemento, tem-se a forma pela qual os ecossistemas se organizam, considerando três camadas, segundo apontam, na Figura 3, Souza e Yamashita (2021).
Camada |
Características |
Núcleo |
- Aborda a origem da empresa. - Capacidade de atração de usuários para o ecossistema. |
Conexão |
- Conecta o ecossistema, que é compartilhado pelas empresas participantes, e permite o acesso ao núcleo e às outras empresas do ecossistema. - Em geral, são serviços de logística, meios de pagamento, inteligência artificial, processamento de dados em nuvem, mídia, entre outros |
Ecossistema expandido |
- Formação de parcerias. - Empresas aportam valor e acessam os ativos de todo o ecossistema (não apenas do núcleo) para proporcionar o crescimento de forma exponencial. |
Figura 3 – Camadas que formatam um ecossistema de negócios Fonte: Souza e Yamashita (2021)
Os principais ecossistemas existentes na China, onde o termo foi concebido, são compostos por empresas com 20 anos ou menos de atuação, como o Alibaba, a Tencente e a Xiaomi, posicionadas e fortemente expandidas internacionalmente.
No Brasil, os principais movimentos em direção aos ecossistemas de negócios vêm de empresas oriundas do setor varejista, que se transformaram ao longo dos anos de uma posição multicanal para marketplace, como são os casos de Magalu, Via Varejo e Americanas-B2W.
Entende-se, portanto, que a realidade do mercado e dos negócios será transformada por estes novos modelos de organização, que servirão de apoio e conexão estratégica entre os mais diversos relacionamentos para o atendimento de diferentes necessidades, tipos de negócios, funcionando praticamente como um “hub”, capaz de agregar diferentes interesses com suporte de elementos da tecnologia, com soluções (produtos e serviços) das mais diversificadas aplicações em realidades setoriais específicas.
Fontes de Consulta:
- Grabmeier, S. 2019. Future Business Kompass: Der Kopföffner für besseres Wirtschaften. Alemanha.
- Hagiu, A.; Wright, J. Multi-Sided Platforms. Harvard Business School. Working Paper, 15-037, novembro de 2014. (revisado em março 2015).
- Parker, G. G.; Van Alstyne, M. W.; Choudary, S. P. 2016. Plataforma a revolução da estratégia: o que é plataforma de negócios, como surgiu e como transforma a economia em alta velocidade. São Paulo, HSM Brasil.
- Souza, M. G.; Yamashita, E. 2021. Ecossistema de negócios: transformando o mercado, o consumo e o varejo. São Paulo: Gouvea ecosystem.
Texto fornecido por Balaminut Gestão Empresarial